quinta-feira, 7 de março de 2013

Mais do que uma estátua

"... eu sou feliz e rodo pelo mundo.
Sou correria mas também sou vagabundo.
Mas hoje dou valor de verdade: pra minha saúde,
 pra minha liberdade.." (Chorão)

Será?

Ontem morreu Chorão, vocalista da banda Charlie Brown Jr, aos 42 anos de idade, aparentemente devido ao abuso de drogas e remédios tranquilizantes controlados. Como a imprensa oficial adora se beneficiar de tragédias para desvirtuar a atenção de assuntos mais relevantes, muitas reportagens saíram comentando a vida do músico, sua obra, seu legado.

Meu tempo de ouvir CBJr já passou há muito tempo, mas entendo que este seja o momento de se falar sobre o que foi a vida dele: os fãs querem ouvir, querem fazer uma retrospectiva da história do cantor, querem prestar homenagens. Li até mesmo que um músico, amigo de Chorão, sugeriu construir uma estátua em sua homenagem na cidade de Santos, por conta dos projetos sociais que o cantor mantinha lá, a maior parte deles ligado ao incentivo à prática do skate. Tudo bem. Faz parte. Ele se foi, que se prestem as homenagens! Mas há algo nessa história toda que não está sendo dito, e que deixa essa blogueira preocupada:

Também no ano retrasado morreu precocemente, aos 27 anos, a cantora Amy Wine House. Com um futuro brilhante pela frente, a música perdeu uma roqueira espetacular também para o abuso de drogas e remédios controlados. As reportagens que se sucederam a sua morte seguiram a mesma linha das reportagens póstumas a Chorão.

A partir desses dois exemplos, não fica claro e cristalino que a precocidade dessas duas mortes - e de muitas outras por aí, de pessoas não famosas – precisa ser discutida? Por que eles morreram assim tão jovens?

Melancholisches - de Heinrich Hoerle (1895 - 1936)


Em entrevista, o motorista de Chorão afirmou: “... ele não me parecia doente, não. Só gostava de não ser incomodado e dormia por longos períodos...“. Além disso, a separação do cantor de sua esposa está sendo tratada como uma das causas que levaram à tragédia ocorrida no dia de ontem.

Está na hora de aprendermos a identificar os sintomas decorrentes das doenças psíquicas. Apatia, tristeza e desânimo momentâneos fazem parte de vida e ninguém está imune e nem deve tentar evitar essas situações. Sofremos desapontamentos o tempo todo. ‘Encher a cara’ com os amigos, beijar outras bocas, ‘pagar um micão’ também são rituais de passagem saudáveis. Servem mais ou menos como o velório: o ser humano precisa de um ‘closure’, precisa entender que aquela etapa terminou, e é preciso partir para a próxima. E por isso, usa o ritual.

Mas devemos ter em mente que ninguém morre de amor. Quando certos sentimentos passam a dominar a vida da pessoa – ansiedade e medo exagerados, por exemplo – é muito provável que ela esteja doente. Doenças psiquiátricas caracterizam-se como doença tanto quanto qualquer outra doença física que conhecemos melhor, como câncer, úlcera e etc. E elas precisam ser tratadas clinicamente. Na maior parte dos casos, não é apenas a força de vontade que vai fazer a pessoa sair da fossa; ela tem uma deficiência bioquímica que precisa ser tratada com medicação! Muitas vezes só exercício físico, uma mudança de atitude e de alimentação já resolvem! Mas é preciso que se acompanhe o paciente de perto! 

Dessa forma, sono em excesso, falta de apetite, desânimo prolongado, abuso excessivo de tranquilizantes são sinais para os quais devemos ficar atentos! Várias doenças psiquiátricas – depressão, distúrbio psicótico, esquizofrenia – já foram caracterizados clinicamente, e a internet está cheia de informações para quem quiser se inteirar mais sobre elas (mas por favor, verifique a fonte da informação primeiro!).

Escrevo sobre isso hoje por ter ficado chateada de ver novamente mais um jovem morrendo tão precocemente. A vida é tão legal e cheia de alternativas! E tenho certeza que o músico inspirador deste post, ainda tinha muita vontade de viver, escrever mais músicas e zoar por aí. Ainda, não estou dizendo que o Chorão não foi avisado, ou que as pessoas próximas dele não tentaram ajudar. Com experiências pessoais intensas e dolorosas, tendo eu um paciente psiquiátrico com uma doença séria na família, afirmo que sei o quanto é difícil ajudar alguém nessa situação. Mas muitas dessas pessoas só precisam de um empurrãozinho amigo para ir em busca de uma vida melhor.

Adianta discutir isso agora que ele já morreu? Adianta. Mais do que construir estátuas, é necessário que se observe de perto em vida as pessoas que amamos e que convivem conosco. Quem sabe a partir disso, vai ser possível conseguir evitar que amanhã seja o seu amigo ou a sua namorada a morrer assim sem razão. Ou quem sabe a sua mãe.

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Não, nós não pretendemos parar de postar!

Não, o Improviso Científico não parou em Outubro e para sempre! Ainda temos muitas ideias fervilhando que desejamos dividir e discutir com vocês! A blogueira só anda um pouco ocupada. Está tentando passar dessa pra uma melhor: defendendo o mestrado e galgando uma vaga no doutorado!! Os pós-graduandos fazem ideia de como essa fase é corrida: precisa-se escrever uma tese e defendê-la, além de se pensar e também defender a ideia do seu projeto de doutorado!

Quando tudo tiver passado, voltamos com tudo, na esperança de publicar pelo menos um texto por semana: há tanta coisa legal nesse mundo para se discutir! Não podemos perder essa oportunidade! ;)

Bom fim de fevereiro, pessoal. E até Março!


                                Chimpanzé: um dos nossos parentes vivos mais próximo evolutivamente.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

O mexilhão dourado e seu transcriptoma


Há algumas semanas, entre os dias 25 e 30 de setembro, vivi bons momentos entre amigos em um verdadeiro paraíso tropical; a praia pernambucana Porto de Galinhas. Não, não estava lá para tirar as boas e merecidas férias. Mas fui por um outro motivo também fortemente motivador, a ciência; fui participar do XII Congresso Brasileiro de Ecotoxicologia.

Minha participação envolveu uma breve apresentação do meu próprio trabalho de mestrado. Já expliquei aqui nesse blog brevemente que estou estudando a genética de dois moluscos bivalves, o mexilhão de água doce invasor Limnoperna fortunei e o marinho Perna perna.


Estou montando um perfil transcriptômico para ambas as espécies. Montar um transcriptoma é parecido com montar um genoma, que tenho certeza que você já ouviu falar sobre. A diferença é que um transcriptoma representa apenas uma parte do genoma; a que contém os genes. O genoma inteiro possui várias regiões chamadas não codificantes, que representam um desafio na montagem. Com o transcriptoma, não estamos preocupados com esta parte.

E porque estou fazendo isso? A razão para sequenciarmos e mapearmos os genes para ambas as espécies é diferente entre si. Este post trata das razões pelas quais estou montando o transcriptoma de Limnoperna fortunei, o mexilhão dourado.

Na verdade, muitas pessoas já ouviram falar dele. Este organismo é um invasor asiático, presente em águas sul americanas desde o início da década de 1990. Ninguém sabe ao certo, mas temos boas razões para imaginar que o mexilhão dourado fez sua viagem da Ásia até aqui em água de lastro de algum navio. Em 1991, pesquisadores encontraram os primeiros espécimes no porto de Buenos Aires, na Argentina. E, desde então, ninguém conseguiu impedí-lo de se estabelecer por aqui! Atualmente ele está presente nos maiores rios da América do Sul, como os rios da Prata, Uruguai, Paraguai e Paraná. Também anda infestando o lago Guaíba, no sul do Brasil, e alguns outros rios e lagos da região. A distribuição limite norte do mexilhão dourado é a cidade de Cáceres. Adivinhe? No coração do Pantanal Brasileiro.

Ok. Temos um mexilhão novo em nossas águas. E daí?

Vários 'daís'. Dentre as diferentes características biológicas que este mexilhão possui e que facilitam seu sucesso como invasor, uma bastante marcante é a capacidade de produzir densas populações. Quando esta espécie foi encontrada pela primeira vez na Argentina, em 1991, a densidade da população era de 5 organismos / m2. Em 2002, este número chegou a 150 mil organismos / m2. É, é muito mexilhão junto! 

E este é um dos motivos que tem dado dor de cabeça às companhias de abastecimento de água e usinas hidrelétricas. A larva de L. fortunei é planctônica (e por isso, muito pequena!!). Através delas ele consegue ultrapassar filtros e grades desses estabelecimentos e acaba se alojando em localidades onde o impacto da água não é tão severo. No caso das usinas hidroelétricas, são os trocadores de calor. Uma vez lá, eles começam a crescer sem parar, resultando nisso!



O que você vê aí é uma turbina de usina hidrelétrica infestada de mexilhões dourados! Já pensou? Pois é, com essa dispersão toda pela América do Sul, o mexilhão já chegou em grandes usinas como Itaipu, e à sistemas de várias companhias de abastecimento de água da Argentina. Os gastos econômicos que ele tem causado não têm sido desprezíveis!

Mas se um mexilhãozinho como este tem a capacidade de se reproduzir desta forma empatando o trabalho das usinas, já pensou o que ele pode fazer ao meio ambiente? Pense, uma vez introduzido em novas águas, ele rapidamente começa a se reproduzir, aderindo em qualquer superfície que 'vê' pela frente. Vários cientistas tem prestado atenção nele, e muitas mudanças nos ecossistemas onde ele se insere já foram noticiadas. O mexilhão dourado é considerado um engenheiro de ecossistemas. Isso significa que ele modifica os ambientes onde vive. Aqui nas águas sul americanas, suas densas populações têm diminuído os números de algumas populações artrópodes, uma vez que o mexilhão literalmente cresce em cima destes e os mata por asfixia. Por outro lado, sua farta presença tem aumentado substancialmente a população de certos peixes, uma vez que ele se tornou um novo, suculento e disponibilíssimo menu alimentar!

Não quero me alongar muito, porque sei que você tem outras coisas para ler/fazer, mas uma coisa preciso afirmar: todos os estudos considerando o mexilhão dourado um engenheiro de ecossistemas e analisando as modificações que ele tem causado em seu caminho de invasão confirmam; a presença de tal molusco diminui a biodiversidade das áreas invadidas. E você quer saber de uma coisa? A partir de Cáceres, seu ponto final de distribuição até então, ele só tem que percorrer em torno de 150 km até chegar ao rio Téles Pires, que por sua vez, se encontra com o Rio Tapajós, já pertencente a Bacia Amazônica. Isso. Ele está a 'um pulinho' de invadir águas amazônicas, águas essas que guardam a maior biodiversidade aquática do mundo. Do mundo inteiro!

E por essa razão, chegamos ao motivo do meu mestrado. Minha intenção, montando o quebra cabeça dos genes desta espécie, é entender melhor a biologia do mexilhão dourado. O que ele tem que o faz capaz de se estabelecer em rios tão distantes uns dos outros? Como é possível que ele tenha sobrevivido todo o caminho da Ásia até aqui? E que história é essa de sair se fixando em tudo quanto é superfície e criando aquelas populações imensas?

Se acharmos respostas para algumas dessas questões, é possível que encontremos a maneira de conter esta invasão.

Um estudo de montagem de quebra cabeças deste tipo já mostrou que os genomas e transcriptomas tem muito a acrescentar em lutas como esta. Recentemente foi publicado na Nature, revista científica de alta relevância, o genoma da ostra-do-pacífico, de nome científico Cassostrea gigas. Este outro molusco bivalve, parente do mexilhão dourado, também se adapta bem a diferentes ambientes aquáticos. Uma das características mais marcantes é sua resistência a longos períodos desabrigado da água, devido às marés. Pois bem, os cientistas chineses estudando este animal já notaram que ele possui uma grande quantidade de proteínas de choque térmico, proteínas estas responsáveis por manter o metabolismo do organismo saudável em situações de estresse. Repare, enquanto os seres humanos possuem apenas 17 dessas proteínas, esses bivalves possuem 39.

Interessante, não? E é este tipo de investigação que eu e meu grupo de trabalho, na Universidade Federal do Rio de Janeiro, estamos fazendo também para o mexilhão dourado. Qual tipo de proteínas ele possui que podem estar ajudando nesta atividade invasora? E melhor, quais dessas proteínas, essenciais para sua vida, podem ser alvos de estratégias de controle dessa invasão?

Estamos em reta final na busca por respostas à essas perguntas. Além disso, gostaria de dedicar três linhas deste post à prosear sobre a maravilha da biologia destes bivalves. Animais tão simples como a ostra-do-pacífico e o mexilhão dourado capazes de tanto! A ostra, que comemos rotineiramente e nem se quer a admiramos um minuto por poder passar tanto tempo fora da água (Quanto tempo mesmo que os seres humanos conseguem ficar sem respirar? 5 minutos, no máximo?). E o mexilhão dourado, desbravando águas nunca antes exploradas com tanto sucesso! 

Já chegamos a lua, mas sabemos tão pouco sobre organismos que estão tão intimamente relacionados conosco em nosso dia-a-dia! Neste momento, pelo menos, nossos cientistas e nossa bela ciência precisam ter humildade suficiente e admitir com entusiamo: temos muito ainda o que aprender!




quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Escrevo para vencer a morte


Penso que o leitor deve ser familiarizado com a teoria da evolução das espécies vinda da ideia de seleção natural postulada por Charles Darwin, certo? Em termos muito gerais, de acordo com tal teoria, todos os organismos vivos atuais possuem um mesmo ancestral comum. Ao longo de diversas gerações, os organismos vivos foram evoluindo (não no sentido de se tornar melhor, mas sim de tornar-se mais derivado) e dando origem a novos grupos de organismos. Alguns desses sumiram para sempre, e outros vivem no Planeta Terra atualmente, como nós, os seres humanos, as diferentes espécies de aves, diferentes plantas e etc. A diversidade de seres vivos atuais é gigantesca e o grau de parentesco entre muitos deles é bastante longínquo. Os fungos por exemplo, estão em um ramo da árvore da vida bastante distante dos seres humanos. A árvore da vida possui diversos ramos diferentes.


Embora a seleção natural seja atualmente a teoria mais popular entre os biólogos para explicar a evolução das espécies, o enfoque e o ângulo pelo qual se olha para ela diverge entre os pesquisadores. Em seu interessantíssimo livro intitulado O gene egoísta, Richard Dawkins defende a ideia de que o elemento sobre o qual a seleção natural atua é o gene. Desta forma, os genes mais bem adaptados para determinada situação serão passados adiante e prevalecerão no pool gênico uma vez que, devido a sua boa adaptação, favorecem a vida de sua 'máquina de sobrevivência' (ou, simplificadamente, do indivíduo do qual fazem parte). Eles serão passados adiante justamente porque as 'máquinas de sobrevivência' que os possuírem terão uma vantagem na vida e muito provavelmente reproduzirão mais do que as 'máquinas de sobrevivência' que não possuírem àquele gene.

Mas além da conclusão lógica de que os genes mais bem adaptados serão passados para a frente pela reprodução, Dawkins intitula sua leitura de o gene egoísta justamente porque defende que o gene está interessado única e exclusivamente em sobreviver. E "pensa" só em si; não está interessado no bem da espécie onde está presente ou mesmo do indivíduo. Esta forma egoísta de ser do gene por fim, leva as 'máquinas de sobrevivência' a terem comportamentos interessantes, que estão representados no comportamento das diversas espécies vivas presentes hoje no planeta. Para maiores detalhes sobre a interessante teoria, recomendo fortemente a leitura do livro!

Mas, além de postular o gene egoísta, Dawkins lança olhar para um elemento evolutivo que se formou a partir da capacidade cognitiva do ser humano. Para o autor, a inteligência do bicho homem possibilitou o surgimento de um outro elemento de evolução; os chamados memes. Os memes são pequenas entidades inseridas a partir da cultura humana; como a música, a escrita, as artes em geral. Entenda, Dawkins não deixa de considerar o homem como mais uma espécie de animal qualquer (o que realmente somos!), apenas atenta para o fato de que o comportamento do homem não é estritamente guiado pelos genes egoístas que ele carrega, mas também pelos memes, pela cultura!

A partir disso, o autor faz uma análise interessante sobre o ser humano: se você se reproduzir, fará com que seus genes continuem presentes e passem às gerações futuras mesmo quando você morrer. Mas a medida que seus descendes vão se reproduzindo com outras pessoas, a quantidade de genes seus que serão passados a diante irá começar a diminuir, de forma que, depois de algumas gerações, a maioria dos seus genes não estará mais sendo passado adiante. Porém, os memes, ao contrário, podem durar séculos! (Com o advento da internet então, quem sabe pra sempre!). Você já pensou sobre isso? Provavelmente nenhum gene pertencente a Platão deve existir neste Planeta presente nos filhos de seus descendentes, mas seus memes, como muitos de seus diálogos, permanecem conosco até hoje!

Algo muito interessante a se concluir dessa história toda é que o ser humano, por mais egoísta que sejam seus genes, tem a possibilidade de ser altruísta a partir dos memes que produz e deixa para as gerações futuras (é óbvio que sempre acontece de se fixar um meme cretino como "Gustavo Lima e você", mas o que se há de fazer!)! Apesar de nosso instinto biológico nos impelir a tomar atitudes sempre em favor da sobrevivência egoísta de nossos genes, nossa capacidade cognitiva nos permite pensar no bem coletivo, por mais desvantajoso que aquilo posso ser para nós mesmos.

É com esse pensamento que escrevo. Escrevo para assegurar a fixação do meme das boas ideias, o meme do pensamento livre, o meme da tolerância às diferenças. Escrevo para vencer a morte.




Restou alguma dúvida ou algum questionamento que você não quer deixar no comentário aberto do blog? Escreva para improvisocientifico@gmail.com 



domingo, 12 de agosto de 2012

Curiosity, a fome no mundo e o voto.


Na última segunda feira (6 de agosto de 2012) pousou em segurança em Marte o incrível robô Curiosity. Sua viagem de 563 milhões de quilômetros ao Planeta Vermelho se iniciou em 26 de Novembro de 2011, as 10 horas da manhã. E foi bem sucedida! Sua missão agora é ajudar os cientistas da NASA (e do mundo inteiro) a elucidar algumas dúvidas: como é o clima de Marte e sua geologia? Será que este planeta poderia suportar a vida como a conhecemos? O robô inclusive já enviou uma foto para nós terráqueos nos maravilharmos! Incrível, não?

Bom, para algumas pessoas parece que não. Durante essa mesma semana, expostas numa das maiores redes sociais do mundo, o Facebook, vi mensagens de pessoas questionando se o dinheiro empregado na missão Curiosity não teria sido melhor investido em combater a fome no mundo.



Posso dizer que entendo a linha de raciocínio das pessoas: num mundo tão cheio de injustiças, será que deveríamos mesmo voltar nossos olhos para um planeta a milhões de quilômetros de distância daqui? 

Minha resposta para essa questão é outra pergunta: será que o problema das injustiças do mundo está relacionado ao dinheiro gasto nas missões espaciais?

O fato é que enfrentamos realmente problemas de má gestão dos recursos gerados no planeta e há muitas más escolha de onde investir esses recursos! Mas uma coisa é certa; investimento em ciência, educação e tecnologia NÃO SÃO três dessas más escolhas!

Um outro fato que devemos sempre ter em mente é que os maiores problemas do planeta (Terra) são atualmente facilmente resolvíveis. Isso mesmo! Esqueça essa história de que a fome no mundo é culpa da falta de comida para todos. HÁ comida para alimentar todas as bocas, o problema é a distribuição! O problema é que o interesse maior é por vender a produção de alimentos, e não por alimentar! Por isso, esqueça essa história de que os cientistas precisam criar grãos que cresçam mais rápido para que todos possam comer! Bullshit!

A superpopulação. O que será que temos que fazer? Uma castração catastrófica nazista é a única solução? NÃO! Camisinha e educação sexual são as soluções! E adivinha só? Isso é barato de se fazer! Não precisamos de super fármacos dos super laboratórios! Precisamos de uma política de educação descente!

Mais uma vez, vou insistir com você leitor, que o melhor que podemos fazer é votar direito. Pode demorar um pouco, mas se insistirmos em votar nos políticos que mostram uma boa conduta, quem sabe com o tempo conseguiremos pensar em Brasília como sendo muito mais do que o local onde gastam nosso suado dinheiro em farras. 

Você já assistiu a esse vídeo? E conhece o ranking dos políticos (http://politicos.org.br/) ?




Dê uma checada lá antes das eleições este ano! Este site faz a pesquisa sobre a seriedade e o trabalho dos políticos por você. E os ranqueia do sentido do 'melhor' para o 'pior'. Dessa forma, se você encontrar políticos com pontuação baixa ou não-ranqueados, o conselho forte é para que você NÃO vote neles!

Finalmente, gostaria de terminar argumentando (em três linhas) em defesa da ciência. Não é maravilhoso que nós, esse bichinhos mamíferos do cérebro grande tenhamos conseguido fazer viajar e pousar um lindo robô em outro planeta? Pense nisso! E o que são os edifícios onde moramos, e a luz elétrica, o rádio e a internet! 

As crianças de barriga vazia ainda te incomodam? Bom, a mim também! Então vamos estudar, votar pra mudar, e quem sabe outro dia quando estivermos todos de barriga cheia, eu tente argumentar novamente em favor da curiosa Cursiosity!

".. You may sayI'm a dreamer. But I'm not only one. I hope some day you'll join us. And the world will be as one..."



sábado, 14 de julho de 2012

Você vai querer um físico no seu funeral!

Aqui vai uma tradução livre do excelente texto You want a physicist to speak at your funeral do jornalista estadunidense Aaron Freeman

"Você vai querer um físico no seu funeral. Você vai querer que ele explique aos seus familiares em luto sobre a lei da Conservação da energia, e então eles vão entender que sua energia não acabou quando você morreu. Você vai querer que o físico lembre a sua mãe soluçante sobre a primeira lei da termodinâmica; explicando que nenhuma energia é criada no universo, e nenhuma é destruída. Você vai querer que a sua mãe saiba que toda energia, cada vibração, cada Btu de calor, cada onda de cada partícula que constituía seu amado filho permanece com ela no mundo. Você vai querer que o físico lembre a seu triste pai que em meio a energia de todo o cosmos, você ainda existe.



Em um certo momento, você esperará que o físico desça do púlpito e caminhe em direção a seu cônjuge de coração partido, explicando a ele que todos os fótons que um dia saltaram do seu rosto, todas as partículas cujas trajetórias foram interrompidas pelo seu sorriso, ou pelo toque dos seus cabelos, centenas de trilhões de partículas que corriam por aí como crianças, tiveram seus caminhos modificados para sempre por sua causa. E quando o seu amor se atirar nos braços dos familiares procurando por conforto, que o físico explique que todos os fótons projetados de você foram reunidos no detector de partículas que são os olhos dele, e que esses fótons, criados dentro da constelação de neurônios eletromagneticamente carregados dele, existirão para sempre.

E o físico lembrará a todos que muito da nossa energia é perdida na forma de calor. (Enquanto ele explica isso, muitas pessoas estarão se abanando devido ao calor!) Então ele vai explicar que o calor que fluía através de você enquanto você vivia, ainda está aqui e é parte do todo que nós somos.

E você vai querer que o físico explique àqueles que te amaram que eles não precisam ter fé. Na verdade, eles não devem ter fé. Ele vai explicar que os cientistas conseguem medir e quantificar, e que eles já concluíram o quanto a lei da Conservação da energia é acurada, verificável e consistente através do tempo e espaço. Então a sua família procurará pelas evidências e ficará satisfeita ao descobrir que a ciência é sólida e que eles podem, portanto, sentir um conforto ao lembrar que a sua energia ainda está por aqui.

De acordo com a lei da Conversação da energia, nem um pouquinho se quer de você vai embora com a morte; você apenas passa a existir de uma forma menos organizada.

Amém."

O texto em inglês você pode encontrar aqui.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

A partícula de Deus


Nesta quarta feira, 4 de Julho de 2012, cientistas do Centro Europeu de Pesquisa Nuclear (CERN), anunciaram a descoberta de uma nova partícula subatômica que pode ser o tão procurado Bóson de Higgs. Conhecida como a "partícula de Deus", o Bóson de Higgs chamou a atenção do meu velho e amado pai, que veio me perguntar afinal de contas o que esse pedacinho de coisa tem de tão divino que mereça tal nome.

Há 13,7 bilhões de anos, no instante em que o Universo nasceu, a grandeza física a que chamamos massa ainda não existia. Este Universo ancião era formado por diversos tipos de partículas, como os bósons de Higgs, espalhados por todo lado. No entanto, em algum momento deste tempo passado, essas partículas elementares se uniram, e criaram o que podemos imaginar como sendo um 'óleo denso'. Explicando de forma simples, a partir deste óleo é que foi possível a criação da matéria. Sem os bósson de Higgs portanto, a matéria não existiria, uma vez que matéria é tudo que possui 'massa'.

Desta forma, de acordo com o mecanismo de Higgs, a partícula de Deus representa a chave para entendermos a origem da massa e do surgimento de outras partículas elementares. O modelo científico que previu sua existência foi desenvolvido em 1964 por três grupos de pesquisa independentes, mas acabou levando o nome do pesquisador britânico Peter Higgs (83) que atualmente tem sido considerado ao Prêmio Nobel de Física. 

      Peter Higgs, (nascido em 29 de maio de 1929), é um físico teórico britânico conhecido por sua proposta sobre quebra da simetria na teoria "eletrofraca", conhecida como mecanismo de Higgs, de 1960. Atualmente, Higgs é professor emérito da Universidade de Edimburgo.


Como os cientistas fazem para encontrar tal partícula? Eles aceleram pedaços de átomos, provocando colisões frontais entre eles. As pancadas são tão intensas que conseguem provocar explosões como as ocorridas no momento do Big Bang. No meio da força dessas explosões, devem aparecer bósons de Higgs soltos, recriando o cenário de 13,7 bilhões de anos, segundo a teoria. 

A máquina bilionária utilizada para recriar o Big Bang, o acelerador de partículas LHC, possui 27 km de comprimento e está enterrado sob a fronteira entre França e Suiça. O projeto desenvolvido pelo CERN, o maior laboratório de física de partículas do mundo, envolve pesquisadores de mais vinte países diferentes.

                                    Acelerador de partículas LHC (Large Hadron Collider) do maior
                                         laboratório de fisíca de partículas do mundo, o CERN.

O termo 'Partícula de Deus' veio quando o prêmio Nobel Leon Lederman resolveu escrever um livro sobre ela. Na verdade, a intenção inicial do pesquisador era apelidá-la de Goddam Particle (A partícula Amaldiçoada) demonstrando sua revolta com a dificuldade em encontrá-la. No entanto, os editores de seu livro não gostaram. Foi então que Lederman cunhou o apelido atual. Ele justificou o nome em seu livro, afirmando que a partícula " é tão central e importante para a física moderna, tão crucial para nosso entendimento da matéria, que pode merecer tal apelido".