Mesmo depois do sucesso do
Crowdfunding do mexilhão dourado, e com o trabalho em andamento no laboratório,
continuo recebendo e-mails com perguntas e dúvidas a respeito da invasão de L. fortunei (esse é o mexilhão dourado!)
na América do Sul. Nas últimas semanas recebi dois e-mais interessantes, que
resolvi compartilhar aqui no blog, porque podem ser dúvidas que outras pessoas
também tenham. Peço desculpas aos autores das questões pela demora, mas em
virtude de alguns deadlines e
principalmente por motivo de saúde, só consegui sentar no computador e parar
pra responder nesse momento.
As primeiras
questões: Minha maior duvida é, se ele veio da China, como
lidaram com o problema por lá? (imagino que comeram todos, como fazem com tudo
por lá). Por que o mexilhão dourado não é comestível?
Pois bem! A resposta para a primeira
das perguntas é a seguinte: a grande questão é que na China ele não é um
invasor! Lá ele é uma espécie nativa. As águas doces asiáticas são diferentes
das sul-americanas, lá ele possui predadores naturais, e está em
equilíbrio com o ecossistema. Por isso, na Ásia o mexilhão dourado não se
reproduz exacerbadamente como ele faz aqui na América do Sul.
Algumas vezes, quando esse ambiente
natural muda, algumas espécies, mesmo nativas, podem sim predominar em
detrimento de outras mesmo no seu local natural. Mas não é o caso para o
mexilhão dourado na Ásia nesse momento.
E será que os chineses comeram todos os
mexilhões dourados? Tenho que concordar com você que eles comem tudo por lá
mesmo! Mas acredite: nem os chineses comem ele! Uau! E por que? Simplesmente
porque ele tem um gosto muito ruim! Simples assim! Em algumas plantas já são
bem conhecidas algumas estratégias contra a predação por insetos herbívoros,
como a produção de tanino e fenol ou o aumento da quantidade de espinhos. Fica
a questão: será que o ‘mau gosto’, a falta de sabor do mexilhão dourado é uma adaptação
anti-predação e que, garante ainda mais o seu sucesso como invasor? Questão boa
para se investigar!
A questão do segundo e-mail (não era
bem uma questão, era mais um pedido INDIGNADO de resposta!): Sei
o quanto você deve ser ocupada, mas não se esqueça de mim! Por favor!!! Aguardo
ansiosamente pelas respostas que fiz há uns 3 e-mails atrás, sobre a substância
que o mexilhão usa para se grudar nas superfícies!
Leitor,
desculpe a demora em responder você! Aqui está sua resposta: a substância que o
mexilhão usar para se fixar chama-se bisso,
e é secretada pela glândula do pé. Sim! Os mexilhões tem pé sim! Dê uma olhada
no bisso secretado pelo mexilhão
marinho Perna perna na figura abaixo.
Mexilhão P. perna fixo em substrato através do bisso.
Foto por Milla Zinkova
Essa
estrutura, que é parecida com um cabelo muito resistente, é formada por um
conjunto de cerca de 30 proteínas (que, quando sequenciadas, serão batizadas
com o nome dos nossos colaboradores do Catarse!). Estudos mostram que o bisso pode ser até 30 vezes mais
resistentes que os tendões humanos! E alguns pesquisadores já investigam a
formação de suas placas adesivas na intenção de desenvolver uma cola para materiais
molhados. Demais, né? Lembrando que esses estudos estão sendo feitos com bissos secretados por outros mexilhões,
pois essa é uma característica comum a essa família, e não é exclusividade do
mexilhão dourado.
Lembrando
que apesar da falta de tempo, me sinto muito feliz em receber e-mails com
dúvidas e questões interessantes, e pretendo responde-los sempre que possível.
No mais, volto agora para o descanso seguido da missão de cumprir meus deadlines. Ontem fui a um médico que me
diagnosticou com ‘gastrite nervosa’. Embora seja um diagnóstico duvidoso, ele
pode ter seu sentido. Fui, como sempre, dar uma investigada na ‘doença’ e
encontrei um dado interessante: a gastrite nervosa acomete preferencialmente
mulheres jovens.
Hum...
Pausa para reflexão.
Não sei exatamente
qual estatística o tal site usou para chegar a essa conclusão, mas deve ter
sido a prevalência de casos em mulheres jovens em um determinado consultório
médico, ou em vários. Fiquei pensando que de repente faz sentido, por dois
motivos: primeiro porque nós mulheres somos umas histéricas-sentimentais-ansiosas!
Não fiquem brabas comigo meninas, mas não tem jeito: nosso gênero ganha no
quesito drama e na necessidade de prever todo o futuro em apenas dez minutos!
Mas nesse momento, não achava que esse era o meu caso. Achava que estava mais
para o segundo motivo: essa vida louca, maravilhosa, cheia de liberdade mas
também cheia de responsabilidades que vivemos hoje no século XXI! Mas disso os
homens jovens, apaixonados e comprometidos com seu futuro (e com o futuro do
mundo) também sofrem! De qualquer forma, pra mim alguma lição ficou: não
adianta adorar o trabalho mas comer miojo pra compensar as horas gastas ruminando
na internet. É preciso aumentar o volume da eficiência, diminuir o da cobrança,
aumentar a quantidade de horas a contemplar o teto e levar a vida leve.
Referências:
- Aoyama & Labinas, 2012: Características estruturais das plantas contra a herbivoria por insetos. http://www.conhecer.org.br/enciclop/2012b/ciencias%20agrarias/caracteristicas%20estruturais.pdf
- Juliana Américo - Cola de mexilhão. http://labioma.wordpress.com/2011/12/07/o-que-e-que-o-mexilhao-tem/
Marcela, é bem legal essa dúvida que fica: "Será que o ‘mau gosto’, a falta de sabor do mexilhão dourado é uma adaptação anti-predação e que, garante ainda mais o seu sucesso como invasor?" porque em humanos se sabe que existe dentro de emoções e motivações um sistema apetitivo e outro defensivo, sendo um sistema sensorial relacionado com um sistema motor. Ao nascer crianças já conseguem discriminar substâncias prazerosas de amargas (possivelmente nocivas), visto que fora feito um experimento com recém nascidos que "nunca tinham se alimentado" (mecanismos motivacionais não aprendidos) com sucrose (substância doce) e quinino (substância amarga), nas quais queria se avaliar se os bebês tinham sensações como de agradabilidade ou aversão, o que gerou expressões faciais distintas, mas o fariam de forma inconsciente. Essas expressões seriam então ligadas a um mecanismo evolutivo de sobrevivência... principalmente a deleção da ingestão de coisas com sabor ''ruim'' que pudessem levar à óbito o organismo em questão e não propagação da espécie, o que no olhar do mexilhão seria uma ótima coisa... porque ele tendo um gosto ruim aos demais pode se propagar livremente em espaços onde não se tem predadores naturais e assim assegurar o seu sucesso como invasor. Pode até ser uma comparação absurda por mostrar extremos, mas fora algo que associei lembrando de aulas de neurofisiologia e que na minha cabeça tem total sentido. Melhoras!
ResponderExcluirAtt,
sua IC.
nao ajudou affs!
ResponderExcluirGastrite se cura facilmente em dois dias com remedios homeopaticos;Experimenta antes de condenar.
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