quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Escrevo para vencer a morte


Penso que o leitor deve ser familiarizado com a teoria da evolução das espécies vinda da ideia de seleção natural postulada por Charles Darwin, certo? Em termos muito gerais, de acordo com tal teoria, todos os organismos vivos atuais possuem um mesmo ancestral comum. Ao longo de diversas gerações, os organismos vivos foram evoluindo (não no sentido de se tornar melhor, mas sim de tornar-se mais derivado) e dando origem a novos grupos de organismos. Alguns desses sumiram para sempre, e outros vivem no Planeta Terra atualmente, como nós, os seres humanos, as diferentes espécies de aves, diferentes plantas e etc. A diversidade de seres vivos atuais é gigantesca e o grau de parentesco entre muitos deles é bastante longínquo. Os fungos por exemplo, estão em um ramo da árvore da vida bastante distante dos seres humanos. A árvore da vida possui diversos ramos diferentes.


Embora a seleção natural seja atualmente a teoria mais popular entre os biólogos para explicar a evolução das espécies, o enfoque e o ângulo pelo qual se olha para ela diverge entre os pesquisadores. Em seu interessantíssimo livro intitulado O gene egoísta, Richard Dawkins defende a ideia de que o elemento sobre o qual a seleção natural atua é o gene. Desta forma, os genes mais bem adaptados para determinada situação serão passados adiante e prevalecerão no pool gênico uma vez que, devido a sua boa adaptação, favorecem a vida de sua 'máquina de sobrevivência' (ou, simplificadamente, do indivíduo do qual fazem parte). Eles serão passados adiante justamente porque as 'máquinas de sobrevivência' que os possuírem terão uma vantagem na vida e muito provavelmente reproduzirão mais do que as 'máquinas de sobrevivência' que não possuírem àquele gene.

Mas além da conclusão lógica de que os genes mais bem adaptados serão passados para a frente pela reprodução, Dawkins intitula sua leitura de o gene egoísta justamente porque defende que o gene está interessado única e exclusivamente em sobreviver. E "pensa" só em si; não está interessado no bem da espécie onde está presente ou mesmo do indivíduo. Esta forma egoísta de ser do gene por fim, leva as 'máquinas de sobrevivência' a terem comportamentos interessantes, que estão representados no comportamento das diversas espécies vivas presentes hoje no planeta. Para maiores detalhes sobre a interessante teoria, recomendo fortemente a leitura do livro!

Mas, além de postular o gene egoísta, Dawkins lança olhar para um elemento evolutivo que se formou a partir da capacidade cognitiva do ser humano. Para o autor, a inteligência do bicho homem possibilitou o surgimento de um outro elemento de evolução; os chamados memes. Os memes são pequenas entidades inseridas a partir da cultura humana; como a música, a escrita, as artes em geral. Entenda, Dawkins não deixa de considerar o homem como mais uma espécie de animal qualquer (o que realmente somos!), apenas atenta para o fato de que o comportamento do homem não é estritamente guiado pelos genes egoístas que ele carrega, mas também pelos memes, pela cultura!

A partir disso, o autor faz uma análise interessante sobre o ser humano: se você se reproduzir, fará com que seus genes continuem presentes e passem às gerações futuras mesmo quando você morrer. Mas a medida que seus descendes vão se reproduzindo com outras pessoas, a quantidade de genes seus que serão passados a diante irá começar a diminuir, de forma que, depois de algumas gerações, a maioria dos seus genes não estará mais sendo passado adiante. Porém, os memes, ao contrário, podem durar séculos! (Com o advento da internet então, quem sabe pra sempre!). Você já pensou sobre isso? Provavelmente nenhum gene pertencente a Platão deve existir neste Planeta presente nos filhos de seus descendentes, mas seus memes, como muitos de seus diálogos, permanecem conosco até hoje!

Algo muito interessante a se concluir dessa história toda é que o ser humano, por mais egoísta que sejam seus genes, tem a possibilidade de ser altruísta a partir dos memes que produz e deixa para as gerações futuras (é óbvio que sempre acontece de se fixar um meme cretino como "Gustavo Lima e você", mas o que se há de fazer!)! Apesar de nosso instinto biológico nos impelir a tomar atitudes sempre em favor da sobrevivência egoísta de nossos genes, nossa capacidade cognitiva nos permite pensar no bem coletivo, por mais desvantajoso que aquilo posso ser para nós mesmos.

É com esse pensamento que escrevo. Escrevo para assegurar a fixação do meme das boas ideias, o meme do pensamento livre, o meme da tolerância às diferenças. Escrevo para vencer a morte.




Restou alguma dúvida ou algum questionamento que você não quer deixar no comentário aberto do blog? Escreva para improvisocientifico@gmail.com 



5 comentários :

  1. Deixa o "Plantão" em paz ;-)

    Keep blogging..

    The Anchor

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  2. Opa! Eu deixo ele em paz, sim! ;) (Já corrigi, thanks!)

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  3. Muito interessante suas colocações a respeito da vida e dos genes relacionados ao ser humano com a interferência dos memes. Nunca havia lido ou visto algo relacionado aos memes. Mas suas colocações a respeito da maior longevidade da cultura que recebemos pelos memes, me fazem refletir bastante sobre a importância de transmitir o amor.
    Rogério Pereira Silva. Representante Comercial e Publicitário.

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  4. Bruno Guimarães de Oliveira27 de agosto de 2012 às 18:54

    Oi Marcela, parabéns pelo blog, muito boa a informação esse meme que voce citou como cretino, provavelmente não se perpetuará, então quem sabe não seria interessante nem tocar em assuntos "irrelevantes" até certo ponto e somente focar naqueles que acreditamos serem pertinentes?!?! Que realmente merecem serem fixados, como a importância de transmitir o amor, mas não de forma genérica como relacionamento entre duas pessoas e sim de forma representativa de comportamento de um individuo com o todo.

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  5. a galera tah querendo mesmo transmitir o meme do amor pelo que vejo nos comentarios...eehhe...o meme do teu texto ficou legal :)

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