terça-feira, 20 de agosto de 2013

"O que é felicidade meu amor" ??

Acabo de voltar do lançamento do livro A menina quebrada de Eliane Brum, jornalista gaúcha que escreve as segundas-feiras para o site da revista Época. Gosto muito dos textos da Eliane porque eles contextualizam, trazendo a vertente política (algo que considero importantíssimo), para os diversos tópicos da vida cotidiana. De certa forma, isso é algo que tento fazer também aqui nesse blog (com muito menos competência e mais modestamente que ela, é claro).

Enquanto esperava pela sessão de dedicatórias, me sentei na agradável livraria da Travessa de Ipanema para saborear um cappuccino e as deliciosas palavras de Eliane no livro que acabara de comprar. A menina quebrada é a compilação de umas tantas colunas de Eliane publicada na Época online, e entre elas encontra-se o texto intitulado Vida de clichê. Dentre a meia dúzia de colunas que li hoje a noite, esta foi uma delas, e me motivou a escrever esse pequeno post.

Nessa busca diária por escrever minha própria história – que acabou me trazendo para o Rio de Janeiro para o mestrado e agora o doutorado – uma de minhas maiores revelações pessoais foi a aceitação de um pensamento racionalista, ateísta e existencialista como norteador moral da minha vida. Minha modesta tentativa (diária e incessante) de fazer minha leitura pessoal sobre o mundo direcionou meu pensamento para esta vertente que, de maneira nenhuma, como podem pensar os partidários de certas religiões, desamparou minha vida de sentido. Muito pelo contrário, este novo 'norte moral' me motiva a cada dia.

Um dos maiores questionamentos dos meus amigos e familiares ainda religiosos - que não possuem aquele preconceito exacerbado de que os ateus são más pessoas ou que consideram o sentido pejorativo que ainda é empregado para esta palavra – sobre essa mudança de visão de mundo é justamente sobre o desamparo. Perguntam eles: “mas a falta de uma crença em algo maior não esvazia sua vida de sentindo?”

E é por responder a esta pergunta que volto à coluna da Eliane Brum. No texto Vida de clichê, Eliane conta da carta que recebeu do irmão físico, alguns dias após ela ter escrito sobre nosso ‘afastamento das estrelas’, dizia a carta:

“Somos um acidente evolutivo, ou melhor, apenas um dos inúmeros (sub)produtos. A consciência não tem nada de especial (a não ser para nós, é claro). Nossa posição temporal e geográfica no universo é totalmente irrelevante. A contrapartida é que somos capazes de perceber nossa existência (acredito que, em outros níveis, outros animais complexos também conseguem). A partir daí, o mundo, tal qual percebemos, é TUDO o que temos (e teremos!). Portanto, estamos no centro do NOSSO universo. E isso coincide com as nossas adaptações evolutivas. Assim, nossa cosmologia é encontrar um ponto de contato entre essas duas realidades: a externa, de total irrelevância, e a interna, onde somos centrais (tanto que nosso universo desaparece com a nossa morte). Por isso a religião (que resolve esse problema) é – a meu ver – uma evolução natural da nossa cultura, consequência natural da nossa evolução biológica (esse é o pensamento, mais ou menos entre outros, do Daniel Dennett, em Breaking the spell). Somos believers (crentes). O que eu acho mais interessante no ponto de vista agnóstico (ou ateu) é que, diante dessas percepções, sabemos que somos tudo o que temos (como indivíduo ou como espécie) e, portanto, temos a liberdade e a responsabilidade de definirmos o que queremos ser (como indivíduo e como espécie). A construção do nosso mundo e para onde vamos é nossa responsabilidade. Acho que não pode haver maior riqueza em uma vida do que essa liberdade.

Resolvi transcrever aqui as palavras do irmão da Eliane porque elas são tudo o que eu penso ser enriquecedor nesse ‘desamparo’ da vida de um ateu. Se considerarmos que a responsabilidade pela nossa felicidade esta em nossas próprias mãos, só basta a nós mesmos escolher o caminho a seguir. É dessa forma que explico aos meus queridos ser, o desamparo do controle de algo maior, uma libertação enriquecedora, porque por mais difícil e complicada que seja a situação na qual eu me encontrar, será escolha minha decidir o que fazer a partir dali, e esta é a maior felicidade que existe. Escolher é fazer a vida a cada dia.


ps: e só para finalizar, não podia deixar de ‘cantar’ meu hino de amor ao Rio de Janeiro: a livraria da Travessa é uma graça e, mesmo a noite, caminhar por Ipanema, com esse clima ameno do inverno carioca, traz prazer e inspiração que podem durar semanas. “Quero a vida sempre assim... ao encontrar você eu conheci o que é felicidade meu amor..”