Recebi muito input externo essas últimas semanas – leituras, vídeos, diálogos com
amigos, e até a experiencia mais dura do confronto com a realidade e
inevitabilidade da morte – que culminaram na minha vontade de escrever esse
texto.
Fiquei pensando sobre as definições
de tempo e sucesso da sociedade contemporânea. Já peço desculpas imediatas
pelas próximas generalizações que faço - que são necessárias na hora de se
escrever um texto falando sobre definições - e gostaria de deixar claro que
valorizo e admiro a busca individual de cada um (para os que fazem essa busca) por
suas próprias verdades, por suas próprias definições.
No geral, diariamente nossa
rotina e tempo envolvem uma sucessão
de longas horas de tarefas, compromissos e atividades. Nesse mundo lotado de
informação, de celulares e aplicativos de produtividade, não temos tempo para
expressar e viver nossas particularidades individuais: ir em busca das
perguntas e respostas que mais nos intrigam, das atividades que mais gostamos. O
mais preocupante não é nem a falta de tempo; é que não nos damos conta dela.
Essa loucura automática diária em
que vivemos é supostamente a nossa forma de ir em busca do chamado sucesso. O sucesso, numa definição crua e mal analisada, atualmente muito
atrelado ao eu: minha carreira, meu
prestigio, minha casa, meu dinheiro e meus bens materiais.
Está tudo errado.
Não é somente a minha ou a sua
impressão, mas os levantamentos quantitativos
demonstram que as pessoas que se sentem mais realizadas não são necessariamente
as que tem maior segurança material, que representa a nossa definição de
sucesso. As pessoas realizadas são outras:
Essa TEDx talk em Victoria no
final de 2014 do meu amigo David Lang, conta um pouco da sua história pessoal.
Primeiro, de forma fantástica, David trás a noção do tempo a partir da
perspectiva dos dias. Ele não conta a sua vida em anos, mas em dias vividos. E
esse é um exercício que todos nós deveríamos fazer. A consciência e o apreciar
de cada dia vivido pode nos ajudar a tirar nossos dias do automático: por mais
que durante a semana tenhamos uma série de atividades para desenvolver, da
mesma forma, todos os dias, precisamos estar conscientes de que este é um dia
valioso, e temos que fazer neste dia o que realmente nos importa.
O que me importa? Como aprecio a vida diariamente?
São perguntas que precisamos nos
fazer urgentemente.
Me deparar com a dolorosa
realidade da inevitabilidade da morte, e da fragilidade da vida, a partir da
perda de um amigo querido, colocou mais urgência ainda na minha busca por essas
respostas.
Outra preciosa lição que sai da
história de vida do David é a sua definição de sucesso. Lá para o final da sua
talk ele afirmar “montei uma empresa, escrevi um livro, dei uma TED talk. Acho
que estou realizado.”
E o que ele conclui a partir
disso?
“Success is
not personal”. - David Lang
Que quando a gente conquista individualmente as coisas que busca, elas
não parecem mais tão especiais assim. É por isso que pessoas que atingiram
a estabilidade financeira e material, quando acham que esse é todo o sentido da
vida, acabam se tornando extremamente infelizes e insatisfeitas. Consquitou coisas,
mas não satisfez o desconforto e a ânsia de realizar.
Diante da efemeridade e pequenez
da vida individual de cada um de nós, você achava mesmo que ser apenas um ser produtor de resíduos; que tem uma casa
linda, um iate e um pau de selfie, iria preencher os seus anseios mais profundos
de realização pessoal? Porque estamos
conscientes de que a nossa vida individual é pequena, curta e insignificante, faz sentido constatarmos que as pessoas
mais felizes são aquelas que partilham: experiências, bens financeiros,
conhecimentos. São aquelas pessoas que fazem algo além da sua borda: que
transbordam. Que envolvem outros, que modificam e sensibilizam a vida de
outros. E assim se eternizam.
“A dream you dream alone is only a dream.
A dream you dream together is reality.” – Yoko Ono
Que você tenha um bom dia.
Tudo que buscamos deve ter um fundo de muito amor incondicional. A partir do amor e da gratidão muitas coisas maravilhosas acontecem na vida das pessoas. O eu nunca é completo, porque o nós tem mais força e quando podemos fazer que este nós envolva muito mais pessoas, nossas ações podem ganhar o infinito. Esta força do bem é a mola propulsora que deve permear as atitudes das verdadeiras pessoas do bem. Que o conhecimento a ciência e sabedoria sejam empregadas na busca de uma vida melhor para todos.
ResponderExcluirConcordo com boa parte da reflexão. No entanto, permita-me explorar outra perspectiva: Existe, de fato, satisfação plena? Será que esta pseudo satisfação plena inerente as pessoas bem sucedidas não seria um mecanismo para sair da inércia, de modo a mante-las sempre em buscar de algo? Então, chegamos à sua pergunta "O que me importa ?". Em geral, ao sair da infância, o homem se torna um mero produto dos valores da sociedade em que vive, abdicando os seus próprios valores. Dessa maneira, como é possível saber o que realmente nos importa diariamente, se em muitos casos nem sabemos o quais são os nossos valores? Talvez as pessoas não façam esse tipo de questionamento justamente para evitar um confronto direto com seus medos e frustrações mais profundos. Diante desta conjectura, as pessoas acabariam tendo que assumir, agora para si mesmas, uma ilusão que, a partir dai, sabidamente seria infundada nos seus próprios valores..
ResponderExcluir"O sucesso, numa definição crua e mal analisada, atualmente muito atrelado ao eu: minha carreira, meu prestigio, minha casa, meu dinheiro e meus bens materiais."
ResponderExcluirBoa frase. É disso que temos que buscar nos desvencilhar, ainda que apenas interiormente. Com muita elegância e sobretudo bom humor, Alain de Botton tangenciou por essas e outras bandas e ofereceu algumas soluções. Uma delas: descubra o seu próprio sucesso em vez de se espelhar no dos outros. Essa é a chave, uma espécie de "desmisturação" do eu e do extra-eu. Link pro vídeo:
https://www.ted.com/talks/alain_de_botton_a_kinder_gentler_philosophy_of_success
"O sucesso, numa definição crua e mal analisada, atualmente muito atrelado ao eu: minha carreira, meu prestigio, minha casa, meu dinheiro e meus bens materiais."
ResponderExcluirBoa frase. É disso que temos que buscar nos desvencilhar, ainda que apenas interiormente. Com muita elegância e sobretudo bom humor, Alain de Botton tangenciou por essas e outras bandas e ofereceu algumas soluções. Uma delas: descubra o seu próprio sucesso em vez de se espelhar no dos outros. Essa é a chave, uma espécie de "desmisturação" do eu e do extra-eu. Link pro vídeo:
https://www.ted.com/talks/alain_de_botton_a_kinder_gentler_philosophy_of_success