Essa semana estou cursando uma disciplina interessante aqui no Instituto de Biofísica da UFRJ. É sobre epigenética e está sendo ministrada pelo professor Marcelo Bento Soares, um dos poucos brasileiros a estar envolvido com o sequenciamento da primeira versão do genoma humano.
Mas o que é epigenética e o que ela tem a ver com determinismo biológico?
Já vou explicar.
Epigenética é um tópico fascinante! Tenho certeza que você já ouviu falar que o código genético, nosso DNA, determina nossas características e é uma junção de 50% de DNA do pai com 50% de DNA da mãe. Certo? Pois bem. Uma vez que tudo está escrito lá nos genes e somos uma união meio a meio entre o DNA de nosso pai e de nossa mãe, isso significa dizer que desde que nossa mãe escolheu mergir o DNA dela com o do nosso pai (fornicação!!!), ela determinou nossa constituição futura, certo?
Errado.
Muito se sabe hoje em dia sobre a relação entre estilo de vida, saúde e bem estar. Se o DNA fosse o único determinante de nossa saúde ou doença, pessoas que tivessem genes para o desenvolvimento de certos cânceres SEMPRE apresentariam esse quadro, e esse seu perfil molecular não poderia ser chamada de predisposição genética, mas sim de destino genético. Mas por que algumas pessoas desenvolvem os cânceres e outras não? Por que é uma predisposição e não uma determinante genética? Dentre as respostas, uma delas é a nossa herança epigenética.
Epigenética é toda uma série de padrões moleculares também herdáveis, mas que não representa mudanças diretas na sequência de letrinhas do DNA. Calma, vou explicar melhor. Imagine que o DNA seja uma longa fita métrica. Agora imagine alguns cliques fixados em diferente locais dessa fita métrica. Assim como quando prendem papéis, os cliques podem ser colocados e tirados da fita métrica sem danificá-la. Assim também é nossa herança epigenética. Biologicamente falando, as heranças epigenéticas mais conhecidas envolvem a metilação de algumas regiões do genoma, chamadas ilhas CpG, ou modificações de proteínas histonas. Essas modificações bioquímicas são reversíveis: os clipes podem ser colocados e tirados de acordo com nossos hábitos de vida. E pra finalizar, herdamos o posicionamento dos clipes no DNA presente nos espermatozóides e óvulos dos nossos pais.
Figura 1: A herança epigenética seria como clipes em uma fita métrica (que representaria o DNA). Ao longo do desenvolvimento e da vida esses clipes podem ser posicionados em diferentes lugares da fita, sem alterar o código expresso por ela. Os clipes presentes no DNA das células reprodutivas dos nossos pais biológicos serão herdados por nós.
Esses clipes em locais diferentes, se presentes ou não, irão influenciar na expressão de diferentes genes e também na estabilidade do DNA. As modificações no padrão epigenético influenciam uma série de questões que vão desde obesidade até comportamento agressivo ou violento.
Um estudo fascinante publicado na Nature Neurosciences em 2004 mostrou a relação entre o comportamento afetivo de camundongos fêmea com os futuros comportamentos de seus filhotes.
Os filhotes que eram bem tratados na primeira semana de vida (licking and grooming behavior) apresentavam uma vida adulta muito menos estressada, e também tratavam bem seus futuros filhotes. Os filhotes que, por outro lado, não eram bem tratados na infância eram mais susceptíveis a estresses e não tratavam bem seus filhotes futuros. Tudo isso estava relacionado a metilação (padrão epigenético) de uma parte do genoma que promove a expressão de um gene ligado a estresse, chamado GR (receptor glucocorticóide).
Resumindo: o comportamento positivo da fêmea influenciava positivamente o futuro dos seus filhotes. Do mesmo modo que filhotes que não eram bem tratados na infância tinham futuros menos positivos; eram mais estressados e não tratavam bem seus filhotes. E tudo isso estava relacionado com o padrão epigenético das células tanta de fêmeas quanto de filhotes!
E agora preste atenção: mesmo camundongos adotados - que então não tinham a mesma herança genética da mãe - que eram expostos ao bom tratamento da mãe adotiva também eram menos estressados no futuro e apresentam comportamento carinhoso! E camundongos filhos da mãe carinhosa - que tinham, então, a mesma constituição genética da mãe carinhosa - que eram afastados dela e criados por mães não-carinhosas apresentavam comportamento não-carinho na vida adulta!
Ou seja? Não era o padrão genético que estava determinando se o camundonguinho seria carinhoso ou não no futuro, mas sim a sua experiência de vida que influenciava no seu padrão epigenético.
O que isso nos mostra claramente? Que nosso DNA pode nos impor alguns limites - se tivermos um gene para câncer teremos maior probabilidade de ter câncer - mas ele não é determinante. Nossas experiências de vida influenciam, pois são elas que vão estabelecer nosso padrão epigenético, que é plástico e mutável.
Os epigenomas e genomas apresentam padrões complexos, que mudam de perfil de acordo com diferentes células e diferentes tecidos. Por isso, você tem que ter paciência com os cientistas que fazem o melhor possível para entender esses padrões, e não pode ficar bravo quando eles falarem e disfalarem mil vezes que você deve comer ovo.
No entanto, estudos sérios, publicados nas melhores revistas científicas, tem mostrado uma relação extremamente forte entre atividade física, dietas vegetarianas, meditação e saúde mental e física.
Pra finalizar e salientar, a ciência mostra cada dia mais que embora nosso código genético seja impreterivelmente a junção do DNA de nossa mãe e pai biológico, a gente faz 'o que bem entender' com a expressão dos genes de acordo com nossas escolhas diárias.
Nas palavras do professor Marcelo:
Resumindo: o comportamento positivo da fêmea influenciava positivamente o futuro dos seus filhotes. Do mesmo modo que filhotes que não eram bem tratados na infância tinham futuros menos positivos; eram mais estressados e não tratavam bem seus filhotes. E tudo isso estava relacionado com o padrão epigenético das células tanta de fêmeas quanto de filhotes!
E agora preste atenção: mesmo camundongos adotados - que então não tinham a mesma herança genética da mãe - que eram expostos ao bom tratamento da mãe adotiva também eram menos estressados no futuro e apresentam comportamento carinhoso! E camundongos filhos da mãe carinhosa - que tinham, então, a mesma constituição genética da mãe carinhosa - que eram afastados dela e criados por mães não-carinhosas apresentavam comportamento não-carinho na vida adulta!
Ou seja? Não era o padrão genético que estava determinando se o camundonguinho seria carinhoso ou não no futuro, mas sim a sua experiência de vida que influenciava no seu padrão epigenético.
O que isso nos mostra claramente? Que nosso DNA pode nos impor alguns limites - se tivermos um gene para câncer teremos maior probabilidade de ter câncer - mas ele não é determinante. Nossas experiências de vida influenciam, pois são elas que vão estabelecer nosso padrão epigenético, que é plástico e mutável.
Os epigenomas e genomas apresentam padrões complexos, que mudam de perfil de acordo com diferentes células e diferentes tecidos. Por isso, você tem que ter paciência com os cientistas que fazem o melhor possível para entender esses padrões, e não pode ficar bravo quando eles falarem e disfalarem mil vezes que você deve comer ovo.
No entanto, estudos sérios, publicados nas melhores revistas científicas, tem mostrado uma relação extremamente forte entre atividade física, dietas vegetarianas, meditação e saúde mental e física.
Pra finalizar e salientar, a ciência mostra cada dia mais que embora nosso código genético seja impreterivelmente a junção do DNA de nossa mãe e pai biológico, a gente faz 'o que bem entender' com a expressão dos genes de acordo com nossas escolhas diárias.
Nas palavras do professor Marcelo:
"You are what you eat.
You are what you do.
You are what you experience"
E isso é a ciência falando. Não é nenhum guru de auto-ajuda! Se você era cético quanto as vantagens do bem viver, esqueça; agora você não tem mais desculpa determinista ("vou morrer do coração mesmo porque toda minha família morreu!!!") pra não viver ou deixar viver.
Referência:
Epigenetic programming by maternal behavior. / Weaver, I C G ; Cervoni, N ; Champagne, F A ; D'Alessio, A C ; Sharma, S ; Seckl, J R ; Dymov, S ; Szyf, M ; Meaney, M J .
In: Nature Neuroscience, Vol. 7, No. 8, 08.2004, p. 847-854.
Obs: há muitos e muitos artigos científicos sobre hábito de vida e epigenética para as mais diversas áreas: atividade física, depressão, obesidade e etc. Se você tiver a referência mas não conseguir acessar o trabalho por algum motivo, pode escrever pra mim que farei o melhor possível para repassar.