sábado, 23 de novembro de 2013

Terminei de ler: "Queda de gigantes"

Resolvi inaugurar no blog a sessão ‘Terminei de ler’. A maior parte, se não todos, os textos desse blog são baseados em questões sobre as quais refleti ao final da leitura de algum livro, é claro. Já escrevi sobre um dos meus livros preferidos “O mundo assombrado pelos demônios” diversas vezes, e ainda preciso apresentar uma resenha do espetacular “Andar do bêbado”. Talvez faça isso agora a partir dessa sessão.

A diferença dela é que é mais direta: hoje gostaria de recomendar o livro do Ken Follet chamado ‘Queda de Gigantes’. Este é o primeiro livro da trilogia ‘O Século’. Ele não é um livro científico, ou sobre ciência. É um livro de história. Mas quem falou que a ciência não está baseada e é totalmente dependente dos fatos históricos? O que dizer sobre o ‘Projeto Manhattan’, que finalizou com a produção da bomba atômica que acabou com a II Guerra Mundial?

Mas afinal, porque os homens fazem guerras? Por que os soldados vão pra linha de frente defender o interesse dos países e das alianças em vez de pensar nos seus próprios interesses?

Para entender essas questões, que parecem tão distantes dos civis das américas ou Europa do século XXI, recomendo fortemente a leitura desse romance histórico. Vale a pena como leitura de lazer. Vale a pena como contextualizador histórico deste século gelado.

Ken Follet contratou oito consultores históricos para escrever a trilogia. Meia dúzia de editores e agentes literários leram as primeiras versões do manuscrito. O segundo livro já está encomendando, aguardo-o ansiosamente.

...

1920
“ O exército francês ocuparia a região de fronteira Renânia durante 15 anos. A região do Saar se tornaria um protetorado da Liga das Nações, sendo que os franceses controlariam as minas de carvão locais. A Alsácia e a Lorena seriam devolvidas à França sem plebiscito: o governo francês temia que a população decidisse permanecer alemã. O novo Estado polonês ficaria tão grande que passaria a incluir os lares de três milhões de alemães e as minas de carvão da Silésia. A Alemanha perderia todas as suas colônias: os Aliados as haviam distribuído entre si como ladrões dividindo um butim. E os alemães seriam forçados a aceitar o pagamento de reparações de valor indeterminado – em outras palavras, teriam que assinar um cheque em branco.... O artigo do tratado dizia: “Os Governos Aliados e Associados afirmam, e a Alemanha aceita, a responsabilidade da Alemanha e de seus aliados por todas as perdas e danos os quais os Governos Aliados e Associados, bem como seus respectivos cidadãos, foram submetidos em consequência da guerra a eles imposta pela agressão da Alemanha e seus aliados."

...

Nos Estados Unidos.

- Você quer ter filhos? – perguntou Gus.
- Sim!
- Eu também. Espero que o presidente Wilson não esteja certo. Segundo ele, nossos filhos vão lutar em outra guerra mundial.
- Que Deus nos livre!!

...

O filósofo Bertrand Russell visitou a Rússia naquele ano e escreveu um livro curto, chamado Teoria e prática do bolchevismo. Russell atacava os bolcheviques não por terem ideais errados, mas por terem ideais certos e não conseguirem coloca-los em prática.

- Isso não quer dizer que esteja errado. Russel é socialista. A acusação dele é que os bolcheviques não estão implementando o socialismo.
- Não se pode fazer um omelete sem quebrar os ovos. – afirmou seu marido, líder do sindicato dos Trabalhadores da Grã Bretanha. 

...

- Nosso governo alemão nos traiu – disse seu pai.
- Isso é o que o senhor acha. Mais e daí? Nos Estados Unidos, quando os republicanos venceram as últimas eleições, os democratas não se amotinaram!
- Os Estados Unidos não estão sendo arruinados por bolcheviques e judeus.
- Se o senhor está preocupado com os bolcheviques, então diga às pessoas para não votarem neles. E que obsessão é essa com os judeus?

...



5 comentários :

  1. esse livro parece ser bem intrigante, Marcela. me despertou o interesse.
    tem um que gosto muito e que, por acaso, já li duas vezes: Sobre a Guerra e a Paz, de Hermann Hesse. menos - ou quase nada - histórico e meio que idealista, retrata o sentimento de angústia do autor ao observar seus pares guerreando na disputa pelo poder.
    a propósito, um comentário off-topic: fiquei admirado com seu post sobre os beagles. interessante como, ao tentar contextualizar o assunto sob várias perspectivas, acabei deixando um dos principais pontos de vista de lado: o dos cientistas.
    parabéns! bj

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi Alexandre! O livro vale muito a pena! Recomendo mesmo! Vou dar uma olhada no 'Sobre a Guerra e a Paz' também.

      Fico feliz que o texto sobre os beagles tenha te ajudado a enxergar nossa perspectiva. A perspectiva dos cientistas. Ele está cumprindo seu objetivo, foi exatamente pra isso que foi feito: para que pessoas razoáveis, que escutam e ponderam sobre as opiniões divergentes, enxergassem a nossa perspectiva e compreendessem a delicadeza e a dificuldade que é resolver essa situação imperfeita.

      Um beijo!

      Excluir
    2. E ajudou bastante a enxergar sua perspectiva, Marcela. Talvez tenhamos a mesma impressão: a de, atualmente, vivermos tempos de excessivas posturas politicamente corretas, quase que, invariavelmente, pautadas por latente hipocrisia e ausência de conhecimento. Tá fácil demais vomitar qualquer opinião por aí.

      Coincidentemente, hoje vi um vídeo que combina perfeitamente com o que você escreveu, no artigo dos Beagles, em "Primeiro: vamos todos virar vegetarianos (todo mundo que está xingando os cientistas já é, certo? Se não, há uma séria disparidade de ideias aí)". Link pro vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=lUtnas5ScSE.

      Apelativo, não? Todo mundo quer que a suposta crueldade com animais acabe, mas ninguém abre mão do bife com fritas. “Lutemos pela liberdade dos Beagles, mas deixa eu tomar minha vacina primeiro”. E por aí vai. A verdade é que todo mundo tem telhado de vidro e não quer assumir.

      O engajamento do ativista que luta pelo fim das pesquisas com animais acaba quando alguém da família fica doente. O sujeito que é contra a pena de morte passa a fazer uma releitura de todos os seus conceitos quando um estuprador entra na casa dele, amarra a família e abusa da criança de 5 anos com todo mundo assistindo (acredite, isso infelizmente acontece).

      Bem, falei demais (cala a boca, Alexandre! rsrs). Pessoas como você enriquecem qualquer debate, obrigado e um beijo!

      Excluir
  2. Pois é, Alexandre! Primeiramente eu gostaria de dizer que acho super relevante que hoje em dia as pessoas tenham algo a dizer, queiram se expor, se incomodem com as coisas. Mas de fato, ninguém quer se aprofundar muito nas questões para formular uma opinião consistente. Em geral as pessoas não têm vontade de se esforçar por nada, e isso é algo me que entristece. A vida é tão efêmera para ser vivida superficialmente...

    Muito legal a animação mesmo! Muito bem feita! E ela conta uma história triste, mas pelo menos ali tem um final feliz! :)

    ResponderExcluir
  3. Concordo plenamente, Marcela. Percebo uma entristecedora inversão de valores. Pode parecer papo filosofal barato, mas a impressão que tenho é que atualmente, o que conta, é o "parecer ser", e não a verdadeira essência da pessoa.

    Apesar de ser um paulista perdido no Rio e ter a impressão de que esse culto à aparência é ainda maior por aqui, vejo a sociedade brasileira, em geral, caminhando pra um cenário de mentira pautado por vidas ocas baseadas em status.

    Daí caímos exatamente no que você citou, o lance de ninguém querer se aprofundar em nada. Então fica tudo muito raso, com a qualidade numa espiral em descendente à medida em que o fluxo de informações inúteis aumenta.

    Tem um vídeo legal e até que curto que fala sobre informações desnecessárias na internet, vale a pena ver: http://vimeo.com/63437853 (prometo que vou tentar continuar o papo sem ficar ilustrando tudo com vídeos, rsrsrss).

    ResponderExcluir