Já li vários textos muito bons
sobre a polêmica do rapto dos cachorros beagles do Instituto Royal, e eu podia
só vir aqui e colar vários links para esses textos. Mas resolvi acrescentar
apenas uma questão que parece que as pessoas não entendem. ANTES DE VOCÊ PENSAR
QUE É CRUEL FAZER TESTES EM BEAGLES EU TE DIGO: O CIENTISTA QUE FAZ JÁ PENSOU
NISSO.
Primeiro gostaria de afirmar o
quanto acho válida e sinto orgulho dessa discussão toda: o mundo já passou por
épocas tão obscuras, onde os seres humanos eram diferenciados uns dos outros
por serem negros ou brancos, ciganos, católicos ou judeus. Isso levou a
genocídios muito bem conhecidos por nós, como durante a escravidão na
colonização das Américas e o holocausto. Mas isso mudou: junto com questões
político-sociais, também a ciência, ao final do século XX e início do século
XXI provou, a partir do sequenciamento e montagem do genoma humano, que somos
todos iguais! Que não há diferença alguma na nossa essência. Pois bem. A partir
de toda essa revolução para a dignidade humana terminamos aqui hoje: discutindo
a vida de beagles. Eles são cachorros. Isso não é demais? Estamos nos aperfeiçoando
como seres humanos. Estamos indo em direção ao mundo mais ideal... Fico muito
feliz!
A partir disso, infelizmente,
tenho uma má notícia: não temos atualmente maneira alguma de substituirmos 100%
das experimentações animais. Não temos. Pode acreditar em mim. Eu não sou
jornalista. Sou cientista. Bióloga. Trabalho na área.
Isso, é claro, não significa que
tenhamos que ficar de braços cruzados. Mas posso te garantir algumas coisas: quando
tu sentires dor ao ver um Beagle sofrer, UM CIENTISTA ANTES DE TI JÁ SENTIU
PIOR. Quando pensares que podemos testar in
vitro, inventar um jeito novo de fazer, UM CIENTISTA JÁ PENSOU ANTES DE TI EM
TUDO ISSO, E ELE JÁ ESTÁ TESTANTO! Quando pensares que a questão é dinheiro,
que usar protótipos é caro demais, eu te garanto: BIOTÉRIOS ANIMAIS CUSTAM
MUITO DINHEIRO, E OS PROTÓTIPOS NÃO SUBSTITUEM EXPERIMENTAÇÃO ANIMAL.
Infelizmente.
Infelizmente. É o que pensam
todos os cientistas que eu conheço que trabalham com animais quando pensam
sobre o assunto. Todos.
Eu, por exemplo, estou escrevendo esse texto porque eu me importo. Precisava me posicionar.
Eu, por exemplo, estou escrevendo esse texto porque eu me importo. Precisava me posicionar.
Entendam uma coisa: os cientistas
são seres humanos, não estou dizendo que a ciência não pode ser usada para a
maldade. Estão aí os exemplos de ciência nazista que não nos deixam enganar. Mas
posso garantir outra coisa: a ESMAGADORA maioria da ciência feita no mundo até
hoje já salvou MUITO mais vidas do que as guerras tiraram, ou do que as mortes
de animais que ocorrem hoje em dia. Para dar dois exemplos devastadores: vacinas
e antibióticos. Pronto. A varíola não existe mais no mundo, ninguém morre de
uma infecção bacteriana qualquer.
Mas não digo, e nunca direi, para
deixarmos de buscar o mundo ideal. Primeiro: vamos todos virar vegetarianos (todo
mundo que está xingando os cientistas já é, certo? Se não, há uma séria disparidade de ideias aí). Estou falando sério. Ou pelo menos, vamos parar de jogar fora
aquele pedaço de carne duro que ficou no prato, vamos parar de consumir carne
todos os dias... Há vários problemas na indústria de carnes e laticínios, e o
pior deles é sustentado pela nossa vontade de não comer aquela carnezinha ‘ruim’
(ao mesmo tempo que milhares de pessoas morrem de fome, e toneladas de carne
são jogadas fora todos os dias).
Mas pra finalizar e dar minha contribuição, dou uma dica para os não-cientistas. Se quiserem protestar com
razão perante os cientistas, pressionem para que eles parem de fazer tanta
pesquisa repetitiva. Porque isso de fato acontece: testes da mesma droga em
modelos muito parecidos, concentrações que nunca vão ser usadas e etc. Ou mesmo, para que aulas de fisiologia sejam gravadas, e os vídeos transmitidos.
Estou
com vocês nessa. A ciência, assim como qualquer outro tópico desenvolvido
através do homem, tem suas falhas. E precisamos ir atrás delas para corrigi-las. Precisamos de reformas (assim como nossos sistemas políticos e sociais). Mas isso já é história para um outro post, um outro dia...