Com o fim bem sucedido do financiamento colaborativo para o sequenciamento do genoma de L. fortunei, só nos resta comemorar e trabalhar! Como já explicamos antes, a montagem de um genoma leva uma quantidade considerável de tempo, e por isso as recompensas que prometemos _ o nome nos genes e proteínas descritos para esse genoma _ vão chegar tardiamente, ao final do projeto. Mas isso não significa que você não possa ficar sabendo do que anda rolando aqui pelo nosso lab!
Para conhecer o projeto: www.catarse.me/genoma
Um dos destinos do dinheiro que arrecadamos de você através do Catarse, é a compra dos kits e reagentes para sequenciar as bilhões de letrinhas A, C, G e T que constituem o genoma do mexilhão dourado. O método de sequenciamento que utilizaremos é moderno, de alta tecnologia, e embora tenhamos essas máquinas no Brasil, os químicos utilizados com elas não são produzidos aqui, e por isso precisamos importá-los. E aí começa o drama:
- Você sabia que, além de não produzir essa tecnologia de ponta aqui no Brasil, a importação de material científico leva o dobro ou o triplo do tempo (entre 60-90 dias) para chegar aqui do que em outros países que também importam?
É isso mesmo! Tal situação ocorre porque os produtos destinados à ciência são submetidos às mesmas leis que outros tipos de materiais importados. O resultado final é o caos: as altas taxas da Receita Federal, somado a fiscalização lenta e inexperiente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) atrasam demasiadamente a entrega de tais materiais aos laboratórios. Isso implica na perda de competitividade da ciência brasileira ao produzir inovação: o acesso muito mais facilitado aos materiais por cientista de outros países lhes confere uma grande vantagem nas pesquisas.
Mas o pior não é isso! Se o material chega, já ficamos felizes! Porque as estatísticas não mentem: um levantamento realizado pelo Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ com 165 cientistas, apontou que 76% deles já tiveram material apreendido na alfândega. Nesse processo burocrático, os reagentes perdem a validade e estragam, e muitas vezes nunca são liberados. Ainda, 99% dos entrevistados já desistiram ou desviaram os rumos de suas pesquisas em virtude das dificuldades criadas pela burocracia.
Se o Brasil é de fato o ‘país do futuro’, e quer ter competitividade internacional também nos setores de desenvolvimento de ciência e tecnologia, está mais do que na hora de mudar essa situação! E o deputado federal Romário de Souza Faria concorda com isso: sabendo da atuação do deputado na área das doenças raras, pesquisadores se mobilizaram e procuraram pelo parlamentar, que elaborou o Projeto de Lei 44111/2012. O PL visa alterar a lei 8.101/1990, para eliminar as dificuldades que os pesquisadores enfrentam no processo: um cadastro nacional de instituições e profissionais autorizados a importar materiais científicos seriam retirados sem burocracia e de forma isenta de cobranças pela Receita Federal e pela Anvisa.
Nas palavras da redação da revista Galileu: “é uma ideia até certo ponto óbvia. O mínimo que um país faz é não atrapalhar pessoas que dedicam sua vida ao conhecimento”.
O PL foi bem aceito até agora, mas enfrenta a burocracia do sistema político brasileiro: se encontrar parecer favorável da Comissão de Seguridade Social e Família, ainda terá que passar pela Comissão de Ciência, Tecnologia, Comunicação e Informática, pela Comissão de Finanças e Tributações e, finalmente, pela Comissão de Constituição e Justiça.
Uma outra solução para facilitar o processo de importação de material científico já foi apresentada anteriormente e se chama CNPq Expresso. Ambos preveem a rapidez na liberação dos materiais, no entanto, a PL prevê a isenção dos impostos, além de ser um projeto de lei, que propõe mudar a legislação federal. O CNPq Expresso é apenas um ato normativo.
Estamos na torcida pela aprovação da PL! E se você quiser ver o genoma do mexilhão dourado sair rapidinho, deveria ficar de olho também!
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