O mexilhão dourado é uma praga. E
nós queremos estudar a sua genética para entendê-lo e combatê-lo. Desde o fim
do financiamento coletivo, onde arrecadamos mais de R$40 mil, estamos fazendo
isso!
Todo mundo já sabe que o DNA é o
código da vida presente em todos os seres vivos: desde os vírus e bactérias até
os seres humanos (com a exceção de alguns vírus, que tem RNA como material
genético). Esse código é formado essencialmente pela sucessão de quatro
letrinhas que formam pares e são na verdade a representação simplificada de
nucleotídeos: os A,C,T e Gs do código genético.
Nessas letrinhas está contida toda
a informação necessária para a construção e processamento das proteínas, que
são os blocos de construção do nosso corpo; são os nossos tijolos. Nem todo o
DNA é formado de tijolos, na verdade, eles representam apenas uma pequena
porção de todo o código. Tem muito cimento codificado no DNA também, que
auxilia na estruturação de todos esses tijolos. E muito DNA ainda não possui
função esclarecida: talvez seja apenas a nossa ciência ignorante que não saiba
para o que ele serve, mas ele também pode não servir pra nada!
De qualquer forma, o primeiro
passo para estudar todas as letrinhas do genoma de uma determinada espécie, no
nosso caso do mexilhão dourado, é estimar quantas elas são: quantas letrinhas
em sucessão presentes nos diversos cromossomos da espécie são necessárias para
construir um mexilhão dourado?
Uma forma científica de fazer
isso é comparando a quantidade de DNA presente no núcleo do mexilhão com a
quantidade de DNA presente no núcleo das células de outras espécies as quais já
conhecemos o tamanho do genoma, por exemplo, os seres humanos.
E
foi exatamente esse experimento que desenvolvemos: através de várias técnicas
de biologia molecular nós coramos o material nuclear de ambas as
espécies, mexilhão dourado e humanos, e um instrumento chamado citômetro de fluxo mediu a
fluorescência do corante que tingiu o DNA celular. No núcleo da célula este
corante se liga apenas ao DNA e proporcionalmente, dessa forma, o sinal da
fluorescência é confiável (se você for cientista e quiser detalhes do
protocolo, acesse nosso protocolo online
em http://goo.gl/9eulBB).
Nós já sabemos que o genoma
humano possui 3 bilhões de letrinhas. O pico de fluorescência do genoma do
mexilhão dourado é 3,8 vezes menor que o pico de fluorescência das células
humanas. Isso significa que o genoma de L.
fortunei é 3,8 vezes menor que o dos humanos e possui em torno de 800
milhões de letrinhas! É letrinha pra caramba!
Como
podemos ver, o genoma do mexilhão dourado é muito menor que o humano. Parece
lógico, não é? Uma vez que os seres humanos são mais derivados (não é complexo,
é derivado o termo correto!) que os mexilhões! Mas não é tão lógico assim não:
depois que muitos genomas foram sequenciados ficou claro que o tamanho do
genoma não está relacionado à complexidade do organismo. Por exemplo, o maior
genoma conhecido na natureza pertence a uma planta, chamada Paris japonica que possui 15% de DNA a
mais que o antigo recordista, que adivinha quem era? Um peixe! Nada de ser
humano! (reportagem: http://goo.gl/CDiIDR).
.
Como falei anteriormente, os
genomas são uma mistura de produtores de cimento, tijolos, argamassa, rejunte e
todos os ingredientes necessários para se fazer uma casa. Mas no fim das
contas, somente mudando a proporção desses ingredientes, não necessariamente
adicionando ingredientes mais requintados, conseguimos construir muitas casas
diferentes. E é por isso que o tamanho do genoma não tem necessariamente relação com sua complexidade. O que influencia na complexidade é o modo como cada genoma se
expressa para formar cada espécie diferente.
Agora que já determinamos que
precisamos montar 800 milhões de letrinhas para formar um genoma, temos muito
trabalho pela frente! Vamos usar o dinheiro arrecado com o financiamento no
catarse para fazer o sequenciamento; determinar a sucessão dessas letrinhas.
Após isto, a bioinformática entra em cena e montaremos os genes que serão
nomeados em homenagem aos colaboradores! Mexilhão dourado, você não perde por
esperar: vamos desvendar o seu código!!
Esta figura mostra a dificuldade que os cientistas tiveram, e continuam tendo, para decifrar os genomas. Sequenciar as letrinhas é só a primeira parte, o mais desafiador é montar e entender as proporções dos diferentes ingredientes que formam a casa de cada espécie!
Parabéns à equipe pela transparência no trato com a crowd. Fico satisfeito de ver o feedback.
ResponderExcluirParabéns pelo trabalho, pela iniciativa e por todo o esforço. Defesa em 2016??? Boa sorte!
ResponderExcluirDefesa Março de 2017! Obrigada pelo apoio! Vamo que vamo!
ExcluirMuito legal a explicação. Valeu pelo carinho... agora, boa sorte com seu caça-palavras gigante!
ResponderExcluirParabéns pela iniciativa! e obrigado pelo feedback...
ResponderExcluirmuito bom o blog
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