Sou correria mas também sou vagabundo.
Mas hoje dou valor de verdade: pra minha saúde,
pra minha liberdade.." (Chorão)
Será?
Ontem morreu Chorão, vocalista da banda Charlie Brown Jr, aos 42 anos de idade, aparentemente devido ao abuso de drogas e remédios tranquilizantes controlados. Como a imprensa oficial adora se beneficiar de tragédias para desvirtuar a atenção de assuntos mais relevantes, muitas reportagens saíram comentando a vida do músico, sua obra, seu legado.
Meu tempo de ouvir CBJr já passou há muito
tempo, mas entendo que este seja o momento de se falar sobre o que foi a vida
dele: os fãs querem ouvir, querem fazer uma retrospectiva da história do
cantor, querem prestar homenagens. Li até mesmo que um músico, amigo de Chorão,
sugeriu construir uma estátua em sua homenagem na cidade de Santos, por conta
dos projetos sociais que o cantor mantinha lá, a maior parte deles ligado ao
incentivo à prática do skate. Tudo bem. Faz parte. Ele se foi, que se prestem
as homenagens! Mas há algo nessa história toda que não está sendo dito, e que deixa
essa blogueira preocupada:
Também no ano retrasado morreu precocemente, aos
27 anos, a cantora Amy Wine House. Com um futuro brilhante pela frente, a
música perdeu uma roqueira espetacular também para o abuso de drogas e remédios
controlados. As reportagens que se sucederam a sua morte seguiram a mesma linha
das reportagens póstumas a Chorão.
A partir desses dois exemplos, não fica claro e
cristalino que a precocidade dessas duas mortes - e de muitas outras por aí, de
pessoas não famosas – precisa ser discutida? Por que eles morreram assim tão
jovens?
Melancholisches - de Heinrich Hoerle (1895 - 1936)
Em entrevista, o motorista de Chorão afirmou: “...
ele não me parecia doente, não. Só gostava de não ser incomodado e dormia por
longos períodos...“. Além disso, a separação do cantor de sua esposa está sendo
tratada como uma das causas que levaram à tragédia ocorrida no dia de ontem.
Está na hora de
aprendermos a identificar os sintomas decorrentes das doenças psíquicas. Apatia, tristeza e desânimo momentâneos
fazem parte de vida e ninguém está imune e nem deve tentar evitar essas
situações. Sofremos desapontamentos o tempo todo. ‘Encher a cara’ com os
amigos, beijar outras bocas, ‘pagar um micão’ também são rituais de passagem saudáveis.
Servem mais ou menos como o velório: o ser humano precisa de um ‘closure’, precisa
entender que aquela etapa terminou, e é preciso partir para a próxima. E por
isso, usa o ritual.
Mas devemos ter em mente que ninguém morre de
amor. Quando certos sentimentos passam a dominar a vida da pessoa – ansiedade e
medo exagerados, por exemplo – é muito provável que ela esteja doente. Doenças
psiquiátricas caracterizam-se como doença tanto quanto qualquer outra doença
física que conhecemos melhor, como câncer, úlcera e etc. E elas precisam ser
tratadas clinicamente. Na maior parte dos casos, não é apenas a força de
vontade que vai fazer a pessoa sair da fossa; ela tem uma deficiência bioquímica
que precisa ser tratada com medicação! Muitas vezes só exercício físico, uma
mudança de atitude e de alimentação já resolvem! Mas é preciso que se acompanhe o
paciente de perto!
Dessa forma, sono em
excesso, falta de apetite, desânimo prolongado, abuso excessivo de
tranquilizantes são sinais para os quais devemos ficar atentos! Várias doenças psiquiátricas –
depressão, distúrbio psicótico, esquizofrenia – já foram caracterizados
clinicamente, e a internet está cheia de informações para quem quiser se
inteirar mais sobre elas (mas por favor, verifique a fonte da informação
primeiro!).
Escrevo sobre isso hoje por ter ficado chateada
de ver novamente mais um jovem morrendo tão precocemente. A vida é tão legal e
cheia de alternativas! E tenho certeza que o músico inspirador deste post,
ainda tinha muita vontade de viver, escrever mais músicas e zoar por aí. Ainda,
não estou dizendo que o Chorão não foi avisado, ou que as pessoas próximas dele
não tentaram ajudar. Com experiências pessoais intensas e dolorosas, tendo eu
um paciente psiquiátrico com uma doença séria na família, afirmo que sei o
quanto é difícil ajudar alguém nessa situação. Mas muitas dessas pessoas só
precisam de um empurrãozinho amigo para ir em busca de uma vida melhor.
Adianta discutir isso agora que ele já morreu?
Adianta. Mais do que construir estátuas, é necessário que se observe de perto em vida as pessoas que amamos e que convivem conosco. Quem sabe a partir disso, vai ser possível conseguir evitar que amanhã seja o seu amigo ou
a sua namorada a morrer assim sem razão. Ou quem sabe a sua mãe.
Excelente reflexão, Mah!
ResponderExcluirQue bom que voltou a escrever no blog!
Beijos
Muito bom o texto!
ResponderExcluirConcordo plenamente, através dos sinais emitidos pelo homem, pela natureza muitas desgraças poderiam ser evitadas! Cabe a nós aprender a fazer uma "leitura" melhor do outro...
Beijos
Maaaah, ótimo texto!
ResponderExcluirSem falar que me identifiquei mto com o assunto,
pois têm ocupado um bom espaço dos meus dias.
Bjs
MUITO bom :)
ResponderExcluirRealmente faz muito sentido tuas colocações. Está passando da hora de se fazer uma reflexão mais séria sobre este tipo de vida, que estamos sujeitos nos dias atuais. A final o que importa mesmo as pessoas? Ser famoso (a). Quanto custa esse ser famoso (a)? No fim das contas o que importa mesmo é ter um quintal sem muro, uma bola para chutar e muito amor pra dar. Você é formidável.
ResponderExcluirOi Flor, li teu post de hj!!! Adorei!!! Vou ler os antigos com o tempo! :)
ResponderExcluirBeijoss!
Oi ! Li o texto acima, pois estava curioso sobre o que tu escreveu a respeito do Chorão, visto que eu gostava muito do som do cara e da banda. Achei boa a tua avaliação quanto à doença em si. Porém, relacionando a morte dos dois músicos acima, penso que são pessoas acima da média, geniais (consequentemente loucas)que, de certa forma, buscam nas drogas algo que o mundo e as pessoas em volta não conseguem proporcionar. Daí em diante, tem a dependência, a depressão e etc. Podemos incluir nesse grupo a Elis Regina e Kurt Cobain (Nirvana). Valeu !
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