É
interessante como as redes sociais podem unir as pessoas com interesses comuns: após
comentar hoje em uma postagem no Facebook
de um amigo que acreditava ser ao acaso estarmos todos aqui nesse mundo, acabei
conhecendo outro cientista, esse social, que concordou com a minha colocação e me
fez a seguinte indagação: “você gosta de Carl Sagan? O Sagan mudou a minha vida!”.
Sempre que
escuto essa frase fico emocionada. O mesmo aconteceu comigo: ler os livros do
Sagan também mudou a minha vida!
Carl Sagan
foi um astro-físico estadunidense (1934-1996) que além de ser exímio cientista,
era um divulgador científico encantador! Com a sua forma dócil, não arrogante e
simples de explicar, Sagan conseguiu levar o pensamento cético e científico
para muitos lares.
Hoje, li dois
textos do Science blogs que me
fizeram relembrar a urgência que temos em ter bons cientistas divulgadores: o
primeiro deles foi este aqui, publicado no RNAm e intitulado 'Como um doutor em biologia pode ser anti-Darwin?', mostrando o absurdo de como 1
entre 2 estadunidenses não acreditam na evolução das espécies e o quanto
isso está relacionado com as informações desencontradas divulgadas pela mídia,
além das convicções religiosas. Nas palavras da autora:
“...Para
Chris Mooney e Matthew Nisbet, a polêmica tem raízes religiosas mas grande
parte da culpa é da mídia. Eles afirmam em um artigo intitulado “Undoing
Darwin” (ou “Desfazendo Darwin”) que quando a evolução sai do campo
científico e entra no campo político e jurídico, ela deixa de ser
coberta por jornalistas com conhecimento científico para navegar entre
páginas sobre política e opinião, e também nos jornais televisivos. Todos
esses contextos, cada um ao seu modo, tendem a retirar a ênfase na forte
evidência científica em favor da evolução para dar credibilidade à ideia
de que há uma crescente controvérsia sobre a ciência evolutiva, e assim a
mídia está cumprindo o seu papel e cobrindo “os dois lados” do tópico.
Eles afirmam categoricamente que esta prática “pode ser politicamente
conveniente, mas é falsa”...
... Algo semelhante acontece com o caso das mudanças
climáticas e aquecimento global. Ao tentar veicular ambos os lados do
debate de maneira “imparcial”, a mídia retrata de maneira bastante
desproporcional a opinião partilhada pela maioria dos cientistas quando
dedica o mesmo tempo no ar (ou o mesmo espaço na mídia impressa) para os
céticos. Dá nisso, o público fica confuso e a ignorância se espalha feito
fogo no milharal...”
O mesmo tema é discutido por Mauro Rebelo, no seu blog
Você que é biólogo (Vqeb) no texto ‘Aproximando os cientistas da sociedade’ onde ele disserta sobre como somos a sociedade humana
mais dependente da tecnologia de todos os tempos, mas como, mais do que nunca,
não conseguimos dialogar com a ciência.
“...E assim criamos um paradoxo: as
pessoas nunca usaram tanto a ciência (e a tecnologia), nunca foram tão
dependentes da ciência e, ao mesmo tempo, nunca estiveram tão distantes dela. É como
se os computadores, os tecidos, as viagens, os remédios, as comidas, os livros…
como se tudo isso viesse de algo que não foi, em um passado recente, uma ideia
de um pesquisador em um laboratório... “
Mas não é por falta de interesse que as pessoas
deixam de se inteirar sobre o tema:
“... A última pesquisa de opinião encomendada pelo MCT em 2010 mostra que 65% da população brasileira tem interesse pela ciência (mais que pela
política, mas ainda menos que pelo esporte) e que
a internet já é a principal fonte de acesso a notícias para jovens e adultos
até 30 anos. Só que um alto percentual (40%) da população que não se interessa
por ciência, explica que simplesmente não consegue entender do que se trata. ...”
O que
está faltando? Muita coisa, e este texto do Vqeb discute bastante as várias razões. Dentre elas, uma questão relevante é: está faltando divulgação científica bem feita! E isso Sagan sabia fazer muito
bem!! Você gosta de ciência? Leia “O Mundo Assombrado pelo demônios”! Você vai
entrar numa viagem intergaláctica sensacional! E sabe o que é melhor? Não vai
ser ficção científica! Porque, como nas palavras de Sagan, “não é possível
voarmos de avião e ao mesmo tempo termos certeza que os sagitarianos são
gregários e afáveis”.
Sou
apaixonada por ciência e ceticismo há alguns anos. Esta paixão mudou minha
visão sobre a vida. Minha visão de mundo. O ceticismo te desampara daquela certeza
cômoda de que existe alguém guiando todos os seus passos. Mas ao mesmo tempo,
coloca nas suas próprias mãos (ou nos seus próprios pés) a responsabilidade
pelo caminhar. E pela direção. Não tome isso como desamparo: tome isso como
liberdade!
Improviso científico recomenda: O Mundo Assombrado pelos Demônios. A Ciência vista como uma vela no escuro.